Uma vez me surpreendi com um irmão que se aproximou e disse "Você se importaria de receber uma cesta básica?" Eu fiquei por um minuto sem entender o motivo da pergunta, mas com um olhar curioso perguntei o motivo, pois do ponto de vista de necessidade eu estava realmente precisando. A resposta foi a seguinte: "É que uma vez fomos ajudar uma pessoa que estava precisando e ela disse que não precisava de esmolas." Ou seja, o orgulho falou mais alto no coração daquela pessoa.
Dentro desse contexto, hoje compartilho com os leitores o devocional do livro Luz para o caminho de Willian MacDonald.
"Nunca me lavarás os pés" (João 13.8)
O Senhor acabara de cingir-se com uma toalha de linho e derramara água em uma bacia para lavar os pés dos Seus discípulos. Quando chegou a vez de Pedro, este reagiu recusando-se terminantemente: "Nunca me lavarás os pés".
Por quê? Por que Pedro não queria aceitar do Senhor esse amoroso serviço? Por um lado, ele pode ter sentido toda a sua indignidade; ele não se considerava digno de ser servido pelo Senhor. Mas existe a possibilidade da reação de Pedro ter sido motivada por orgulho e independência. Ele não queria ser um receber de assistência. Ele não queria depender da ajuda dos outros.
Essa mesma postura impede muitas pessoas de serem salvas. Elas querem merecer a salvação, mas consideram aquém de seu nível recebê-la como um dom gratuito da Graça de Deus. Não querem ficar devendo nada a Deus. Mas "aquele que é orgulhoso demais para ter um dívida eterna e infinita para com Deus jamais poderá tornar-se cristão" (James S. Stewart).
Esse verso também contém uma lição para os que já são cristãos. Todos nós conhecemos cristãos que são doadores quase compulsivos. Estão sempre fazendo alguma coisa pelos outros. Sua vida consiste unicamente em servir seus parentes e vizinhos. Sua liberalidade e disposição para ajudar merece muitos elogios. Mas todo ânimo tem um lado negativo! Eles jamis querem aceitar ajuda para si mesmos. Aprenderam a dar generosamente, mas não aprenderam a receber com gratidão. Gozam da benção e da alegria de servir ao próximo mas privam os outros dessa mesma benção.
Paulo mostrou-se um grato recebedor das ofertas dos filipenses. Ele lhes escreveu cheio de gratidão: "Não que eu precure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumento o vosso crédito!" (Filipense 4.17). Ele pensava mais na recompensa dos filipenses do que nas suas próprias necessidades.
"Conta-se que o bispo Westcott, no final da vida, afirmou ter cometido um grande erro. Pois enquanto ele sempre esteve disposto a ajudar os outros até os limites de sua capacidade, jamais esteve disposto a permitir que os outros fizessem alguma coisa por ele. Como consequência, em sua vida faltava um elemento de amorosidade e completude. Ele havia negligenciado o aprendizado de ser recebedor de muitos gestos de bondade que não podem ser retribuídos" (J.O. Sanders).
Um poeta desconhecido resumiu com acerto:
"Considero grande aquele que, por causa do amor,
consegue dar de coração grande e aberto;
mas quem consegue receber por causa do amor,
esse eu considero, creio eu, ainda maior."