segunda-feira, 23 de maio de 2016

O Espírito que Age


O Espírito que Age
C.H. Spurgeon

O Espírito de Deus age também como óleo que unge e isto se relaciona com todo o trabalho da pregação – não simplesmente com a alocução oral, mas com toda a transmissão do discurso. Ele pode fazê-los sensíveis ao assunto, até ao ponto de ficarem dominados por ele, quer achatados na terra, quer elevados às alturas como em asas de águias. Acresce que, além do assunto, Ele os faz sensíveis ao seu objeto, até anelarem pela conversão dos homens e pelo despertamento dos cristãos, para que se elevem a algo mais nobre do que tudo que já conhecem. 

Ao mesmo tempo, outro sentimento estará com vocês, a saber, um intenso desejo de que Deus seja glorificado mediante a verdade que estão proclamando. Vocês ficam conscientes de um profundo e compassivo interesse pelas pessoas a que estão falando, lamentando que alguns saibam pouco, e que outros saibam muito e, contudo, o recusam. Vocês fitam alguns semblantes e, em silêncio, o seu coração lhes diz: "Ali caí orvalho", e, voltando-se para outros, com tristeza percebem que são como as partes áridas da montanha de Gilboa.

Tudo isto se dá durante o sermão. Não podemos contar quantos pensamentos passam pela mente de uma vez. Uma vez contei oito grupos de pensamentos que ocupavam o meu cérebro simultaneamente, ou ao menos dentro do espaço do mesmo segundo. Estava pregando o evangelho com todas as minhas forças, mas não pude deixar de sensibilizar-me por uma senhora que estava evidentemente prestes a desmaiar, e também fiquei procurando o irmão encarregado das janelas, para que nos desse mais ar. Estava pensando na ilustração que omitira na primeira divisão, procurando dar forma à segunda divisão, perguntando-me se este sentira o peso da minha reputação, se aquele se fortalecera com a observação consoladora, e ao mesmo tempo estava louvando a Deus por desfrutar eu pessoalmente da verdade que estava proclamando. 

Alguns intérpretes consideram os querubins de quatro rostos como emblemas dos ministros. Eu certamente não vejo dificuldade na forma quádrupla, pois o Espírito Santo pode multiplicar os nossos estados mentais, e fazer de nós homens muito superiores além do que somos por natureza. O quanto pode Ele fazer de nós, e quão grandiosamente pode elevar-nos, não ouso conjeturar. Certamente Ele pode fazer muitíssimo acima do que pedimos ou pensamos. Especialmente faz parte da obra do Espírito Santo manter em nós uma disposição devocional enquanto estamos entregando a mensagem.

Esta é uma condição que se deve ambicionar grandemente – continuar a orar enquanto estamos ocupados com a prédica; cumprir os mandamentos do Senhor, dando ouvidos à voz da Sua Palavra; manter os olhos postos no trono, e as asas em constante movimento. Espero que saibamos o que isto significa. Estou certo de que sabemos o seu oposto, ou de que logo o experimentaremos, isto é, o mal de pregar sem espírito de devoção. Que pode ser pior do que falar sob a influência de um espírito arrogante ou irritado? Que é mais debilitante do que pregar num espírito incrédulo? 

Por outro lado, que bênção arder fervorosamente enquanto brilhamos diante dos olhos de outros! Esta é a obra do Espírito de Deus. Adorável Consolador, opera em nós! Em nossos púlpitos precisamos unir o espírito de dependência como de devoção, de modo que, durante a pregação toda, desde a primeira palavra até a última sílaba, olhemos ao alto para o Forte em busca de força. É bom lembrar que, embora tivessem chegado até o presente ponto, se o Espírito Santo os deixasse, fariam papel de tolos antes de acabar o sermão. Elevando os olhos para os montes de onde vem o socorro durante o sermão inteiro, com absoluta dependência de Deus, vocês pregarão com espírito de bravia confiança o tempo todo. 

Talvez eu esteja errado ao dizer "bravia", pois não é coisa bravia confiar em Deus; para os verdadeiros crentes é simples questão de doce necessidade – como podem deixar de confiar nEle? Por que haveriam de duvidar do seu Amigo sempre fiel? Outro dia de manhã, pregando à minha igreja sobre o texto, "A minha graça te basta", disse aos irmãos que pela primeira vez em minha vida tinha experimentado o que Abraão sentiu quando se inclinou sobre o seu rosto e riu. Voltava para casa depois de uma semana de trabalho intenso, quando vejo à minha mente o texto: "A minha graça te basta."  Veio, porém, com a ênfase posta em duas palavras: "A Minha graça te  basta." Minha alma disse: "Sem dúvida é assim. Seguramente, a graça do Deus infinito é mais que suficiente para um simples inseto como eu." E ri, e tornei a rir, ao pensar em quanto o suprimento excedia a todas as minhas necessidades. Parecia que eu era um pequeno peixe no mar, e na minha sede dizia: "Viva, vou beber o oceano inteiro." Então o Pai das águas ergueu sublime a cabeça e disse a sorrir: "Pequenino peixe, a ilimitada vastidão marinha te basta." 

Este pensamento fez com que a descrença parecesse supinamente ridícula, como de fato é. Irmãos, devemos pregar cientes de que Deus pretende abençoar a Palavra proclamada, pois temos Sua promessa neste sentido. E ao termos pregado, devemos procurar as pessoas atingidas pela bênção. Dirão vocês: "Fico dominado pelo espanto ao ver que Deus converte almas por meio do meu pobre ministério"? Falsa humildade! O seu ministério é pobre de verdade. Toda gente sabe disso, e vocês devem sabê-lo mais que ninguém. Mas, ao mesmo tempo, é coisa para espantar que, o Deus que disse: "A minha palavra não voltará para mim vazia", cumpra o que prometeu? A refeição irá perder o seu valor nutritivo porque o prato é barato? A graça divina haverá de ser sobrepujada por nossa fraqueza? Não. Mas temos este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não nossa. Precisamos ainda do Espírito Santo durante o sermão todo para manter os nossos corações e mentes em condição apropriada. Sim, porque, se não tivermos o espírito certo perderemos a entonação que persuade e prevalece, e o povo descobrirá que a força de Sansão o deixou. 

Uns pregam como quem está ralhando, e assim põem à mostra o seu mau gênio. Outros se pregam a si próprios, e assim revelam o seu orgulho. Alguns discursam como se estivessem condescendendo em ocupar o púlpito, enquanto outros pregam como se estivessem pedindo desculpa por existirem. Para evitar erros nas maneiras e no tom da prédica, precisamos ser guiados pelo Espírito Santo, posto que só Ele nos ensina com proveito.

Este é o quinto post que faz parte de uma série de 8 publicações sobre o Espírito Santo e sua relação com o ministério. O anterior falou sobre Espírito de cooperação.


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